O caminho sombrio para o suicídio de pastores.

 

Setembro Amarelo é mês de conscientização sobre o suicídio, já considerado pela OMS - Organização Munidal da Saúde como prioridade pública há alguns anos. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos e para cada suicídio, há muito mais pessoas que estão no processo de tentativa. Segundo as estatísticas, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.

Essa epidemia também atinge homens e mulheres de fé, que geralmente passam por caminhos difíceis, que enfrentam a depressão ou vivem no isolamento. A cada dia aumenta o número de pastores que desistem do ministério e da vida. Segundo dados do Instituto Schaeffer, a grande maioria dos pastores estão vivendo um forte abatimento que pode levá-los à um caminho sombrio.

Confira o artigo de Carlos Catito* que fala exatamente sobre isso:

O caminho sombrio para o suicídio de pastores

Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?

De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.
A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes é a depressão, associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.

DEPRESSÃO:
Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?

A Bíblia menciona homens e mulheres fiéis que ficaram neste estado e que desejaram morrer — entre esses estão Rebeca, Jacó, Moisés e Jó. — Gn 2522; 37.35; Nm 11.13-15; Jó 14.13. Especialmente Elias (1 Reis 19.4)
Elias teve um ministério de sucesso: previsão da seca; ressuscitou uma criança; enfrentou os profetas de Baal; etc.
– Tinha vigor físico – correu à frente do carro de Acabe (1 Reis 18.46) – ou seja, não tinha problemas físicos;
– Teve uma ameaça real – jurado de morte – fez perder o sentido da vida em um escalonamento (1 Reis 19.3 e 4):

  • Preocupação com a vida
  • Isolamento social
  • Desistência da vida

– O medo de perder a vida paradoxalmente o fez perder o sentido da vida
– Escalonamento de vitimização:

  • Ocorre em relacionamentos simétricos quando não há concordância sobre as posições de superioridade e sujeição na relação
  • Podem brigar pelo controle em suas posições (de superioridade ou sujeição) – existe pouco consenso em relação às posições e ambos acabam se sentindo vítimas
  • A escalação sacrificial se dá quando quem ganha perde

– Ameaças reais que se interpõe na vida cotidiana – podem ser o ‘gatilho’ para desencadear a falta de desejo pela vida:

  • falência financeira
  • término de um relacionamento amoroso – divórcio
  • perda do emprego
  • perda de uma pessoa amada, de um filho
  • fracasso profissional – injustiças
  • abandono social – falta de amigos


ESGOTAMENTO FÍSICO E EMOCIONAL:

Descanso e saúde:
– Trabalho e descanso marcam um ritmo vital

  • São atitudes complementárias
  • Uma iniciativa humana que se articula complementarmente através do “descanso” com a natureza própria da vida

– Quando o homem descansa, ele não interrompe sua tarefa vital, apenas a significa

  • Outorga um sentido – trabalha confiante que sua tarefa é um prolongamento de uma bondade que se afirma no próprio Deus
  • O trabalho do homem não se assegura em um rendimento transacional, mas em uma mutualidade originada na doação do tempo que cada um de nós recebe com um presente.

– Descansar é um comportamento que surge de estar existencialmente “confiado”:

  • Crer que cada um faz o que faz a partir de uma “boa vontade”, ou seja, da própria espontaneidade da vida
  • É deixar que a beleza da rosa o atravesse, enquanto se trabalha e criar com o martelo que labora os ritmos de descanso que o florescer da rosa convida
  • Descansar é imprescindível para uma vida saudável:
    • Descansar significa “ser capaz de distanciar-se daquilo que nos torna obsessivos”
    • Esta disposição está ligada à nossa corporalidade e é independente de nossa vontade – não pode ser fabricado, apenas chega a nós
    • O descanso é aquilo que nos faz dormir em paz
  • As manobras da sociedade de consumo:
    • A tentativa de descanso através da “prótese”: excesso de álcool, tranquilizantes, compulsões (do turismo merecido até a religião tóxica, passando por uma sexualidade de performance)
  • O descanso é como uma visita que realça a hospitalidade própria do amor, criando uma nova fecundidade onde o cansaço havia obscurecido a esperança
  • Em síntese: descansar é RE-VIVER!


FALTA DE AMIGOS:

  • Pastores têm poucos amigos, às vezes nenhum.
  • Em reuniões exclusivas para pastores, a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial.
  • Na conversa íntima dos consultórios, o sofrimento se revela.
  • Pastores contemporâneos são cobrados como – e muitos se sujeitam a ser – executivos que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições.
  • Há uma relação circular perversa de falso significado de sucesso: pastor e instituição se conluiam em uma rota autodestrutiva
  • A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas.
  • Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional.

ALGUMAS ALTERNATIVAS:

Pastores:

  • Encontrar um amigo que o aceite como é, com suas bobagens e defeitos, com quem se possa “jogar conversa fora” e não se saiba explicar o porquê da amizade.
  • Encontrar um conselheiro ou terapeuta de confiança para abrir a alma.
  • Ter tempo para o SHABATT – fora do padrão compulsivo
  • Descobrir a importância do “descanso relacional”
  • Estar atento às relações de escalonamento sacrificial – especialmente com a instituição (representada por dirigentes/membros obsessivos)

Instituições:

  • Promover encontros de pastores que possuam caráter terapêutico/curador. Com facilitadores habilitados na condução de compartilhamento de emoções que afetam a vida pastoral;
  • Diminuir as pressões de resultados numéricos sobre a função pastoral.
  • Estar atenta a um padrão mínimo de orçamento-salário pastoral, para que ele e sua família não sofram privações.
  • Desmitificar pseudo-hierarquizações: papéis x poder, realçando a humanidade de todos e o pertencimento mútuo.

 

*Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski. publicado originalmente na Ultimato.com. Catito é psicólogo clínico, escritor, professor e coordenador de cursos de especialização em Terapia Familiar Sistêmica e de Aconselhamento Pastoral Familiar. É também professor convidado do Instituto da Família - FTSA. Coordena o Instituto Phileo de Psicologia, onde exerce suas atividades de terapeuta familiar.

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